sexta-feira, 13 de junho de 2008

POESIA DO SHIVA



O PEQUENO SHIVA DE OITO ANOS, O HINDO-BRASILEIRO, NOSSO FILHO, FOI MERECEDOR DE PREMIO POR SUA POESIA,

QUE TEM UM PROFUNDO TOQUE DE FILOSOFIA...DA ÍNDIA...


O Que Sou

(Shivaram)


Não importa se sou fraco
ou forte

Não importa
se sou bonito
ou feio.

Não importa se sou
rápido ou vagaroso.

O que importa é
o que sou por dentro.

Se sou chato,
que eu mude.
Se sou legal,
Que bom!

Fui triste ou feliz
Mas o que importa é o que sou hoje!

AMIGA DA INDIA

Em meio a muito trabalho, produções, histórias e intensas atividades com a família, recebemos a visita da amiga indiana Lalita, natural de Kerala, que mora atualmente em Dubai.
É sempre um grande prazer receber amigos em casa. A nossa lalita de 5 anos é que ficou muito feliz com a lalita Chechi ( expressão carinhosa de chamar as amigas ou irmãs mais velhas) por encontrar alguém com o mesmo nome e que fala malayalam, língua de Kerala, o tempo todo com ela.
Depois de visitar São Paulo, Foz do Iguaçu, Rio de Janeiro e Paraty, Lalita veio para nossa casa em Brasília. É muito bacana ver uma indiana jovem viajando pelo Brasil. Acho que ela foi a primeira que encontrei nos últimos anos. É muito raro encontrar indianos que visitam o Brasil, apenas por curiosidade, para viajar. E quando encontramos, são sempre homens. Para mim é um sinal que a Índia está mudando e que a juventude indiana está buscando novos caminhos.
Enfim, Lalita adorou o Brasil e a comida brasileira. Adorou pamonha, tapioca, o feijão nosso de cada dia e os pratos com carne que comeu nos restaurantes e casas de amigos durante a viagem.
Lalita é de família cristã de Kerala, mas nunca seguiu a religião assiduamente porque seu pai segue o comunismo, muito forte em Kerala. É interessante saber que esse pequeno estado do sul da Índia, já teve reforma agrária e foi o primeiro do mundo a colocar o partido comunista ao poder através do voto direto, democraticamente.
Das melhores coisas que fizemos por aqui juntas, foram os momentos na cozinha, nos deliciando com as iguarias de Kerala, como o puttu, meu café da manhã preferido...

quinta-feira, 8 de maio de 2008

O jeitinho Malayali

Um povo tranqüilo, porém com uma visão empreendedora, os nativos de Kerala têm orgulho do local onde vivem. Seus mais de 30 milhões de habitantes, têm uma vida cotidiana regada à coco e boa comida. É impossível comer sem coco em Kerala. Em qualquer restaurante, vegetariano ou não, o coco está presente de diversas maneiras e preparos.

Seu desjejum promete ser um dos mais saudáveis do mundo. Os famosos “dosas”, espécie de panqueca de arroz e lentilha branca da região, podem medir até 50 cm de diâmetro, e são servidas com Chutney de coco ou “sambar”, cozido de legumes com tamarindo.

O Puttu, cuscuz de farinha de arroz e coco, é comido com banana-da-terra. Há controvérsias sobre a origem deste prato. Muitos dizem que foi trazido pelos portugueses e árabes para cá, virando nosso cuscuz de milho, ou vice-versa, foi daqui pra lá. Controvérsias a parte, é um delicioso e saudável café-da-manhã encontrado em qualquer tea ou coffe shop.


Orgulhosos de sua cultura, não escondem nenhum pouco que o estado possui um índice de 100% de alfabetização, e que foi o primeiro lugar do mundo a eleger democraticamente um governo comunista-marxista.

Encontramos curiosidades deste povo, como o local onde se consome mais jornal no mundo. E mesmo o estrangeiro consegue perceber isto sem esforço. Nos restaurantes, pontos de ônibus, lojas, trens, ou no banquinho da esquina, todos têm um jornal na mão, especialmente pela manhã.

Outra característica marcante do malayali é a habilidade para resolver os problemas do dia-dia, ou dar um “jeitinho” indiano para tudo. Tudo se conserta, arruma e transforma. Mão-de-obra e trabalho, não é um problema para o menor e mais populoso estado da Índia.





quarta-feira, 23 de abril de 2008

Em busca das especiarias


Com a fama de “God´s own Country” ou “terra de Deus” o turismo de Kerala se espalhou pelo mundo, e hoje atinge o décimo local mais procurado pelo viajante de todos os locais do planeta.

Um pequeno braço de terra, espremido pelo Mar Arábico em sua costa leste, e pelas montanhas de plantações de chás e especiarias ao oeste e norte, possui 25% de todas as espécies da Índia. No extremo sul do estado, fica Kanya Kumari, cidade famosa pelo encontro dos três oceanos: Mar Arábico, oceano Índico e Pacífico.

E foi graças às famosas especiarias do oriente, tão cobiçadas por europeus e árabes desde o século 3 A.c, que Kerala tornou-se o centro comercial da Índia. O Rei Salomão foi um dos primeiros a estabelecer o comércio com Kerala. Depois vieram os árabes e judeus.Com a chegada de Vasco da Gama em 1498 e a descoberta do Caminho para as Índias, intensificou-se a comercialização das especiarias.Sua tripulação chegou em Calicut, ao norte de Kerala e marcou o início de uma nova era dentro das trocas mundiais.



Um paraíso tropical para os portugueses, Kerala tornou-se mais do que apenas uma fonte de especiarias. Sua diversidade de espécies ampliou as possibilidades de comércio aos lusitanos. Ao contrário do que aconteceu no Brasil, os portugueses não conseguiram estabelecer uma colônia em Kerala, porém dominaram o comércio e seus portos.

E dois anos mais tarde, em 1.500, a embarcação de Pedro Álvares Cabral, ao seguir a rota das especiarias, misteriosamente mudou de direção e chegou numa terra estranha, que parecia ser a Índia, ou melhor, Kerala. Por isso chamaram os nativos de índios. Só que mais tarde concluíram que não era a terra dos indianos, mas outro paraíso tropical, que nomearam de Brasil.

Esta “pequena” mudança na rota de Cabral, proporcionou uma intensa troca de culturas nativas entre estes dois paraísos tropicais. Não existiria lugar melhor do que o Brasil, para crescer as grandes mangueiras e jaqueiras de Kerala. Assim, a jaca, manga, espécies de bananas, pimentas, gengibre e especiarias foram trazidos de lá para cá. E do Brasil partiu o cajueiro, a mandioca, o mamão e abacaxi.

Este encontro histórico com o Brasil, num primeiro olhar nos traz uma atmosfera familiar, que se desfaz ao conhecermos um pouco mais a tradição cultural dos Malayalis...

Que estarei revelando aqui...passo a passo....

quinta-feira, 10 de abril de 2008

KERALA: A TERRA DOS DEUSES E COQUEIROS

A Índia é um destino surpreendente e que nos oferece experiências fascinantes. Parece um livro antigo e muito colorido, que nos conta uma história de 5.000 anos, e que traz em cada página uma surpresa, jamais vivenciada antes por nós.

Uma das regiões pouco conhecida pelos brasileiros é o estado de Kerala, um paraíso tropical ao sudoeste do país. Se comparado com o Brasil, seria nosso nordeste brasileiro, com coqueiros, praias e gente alegre, só que completado pela cultura e misticismo indiano, o que o torna um ponto peculiar na face da Terra.

Em Kerala, os palácios suntuosos do norte da Índia, foram trocados por grandes tradições artísticas, quase que monumentos, como a dança-teatro Kathakali e Kutiyattam.

Neste pequeno estado, o verde da natureza se mistura a uma cultura própria, com sabedoria e práticas milenares, onde as pessoas conseguem harmonizar o muito antigo e o moderno, sem perder sua beleza original.

O sábio guerreiro Parasurama, considerado a sexta encarnação de Vishnu, o Deus da Conservação, após destruir o reinado dos Kshatryas, formou uma assembléia entre os homens sábios, pedindo para que sua alma fosse libertada das ações maléficas que havia praticado em suas conquistas. Aconselhado pelos Bhramins (sacerdotes hindus), iniciou sua penitência em Gokarna, lá onde o mundo terminava.

Perturbado pelo barulho de Varuna, o Deus dos Mares, e Bhumidevi, a Deusa da Terra, seguiu caminho até Kanya Kumari, no extremo sul do continente. Lá atirou seu machado de guerra em direção ao mar, que afundou nas profundezas, emergindo uma terra próspera e rica em natureza, que nomearam Terra de Parasurama, conhecida também por Kerala.

Exuberante por natureza, Kerala significa em Malayalam, língua local, “terra do coqueiro”. Ao chegar em Kerala, atravessando sua fronteira ao norte com o estado de Karnataka, ou ao oeste com o estado de Tamil Nadu, o que impressiona à primeira vista é a suntuosidade dos coqueiros.

Da janela do trem ou avião, a sensação é que estamos entrando num coqueiral infinito e que só de coco vivem todos por lá. E depois até descobrimos que é um pouco assim mesmo, pois o coco impera na culinária, nos tratamentos de cabelo e pele e no artesanato local.

Saiba mais sobre Kerala em breve!!!!

terça-feira, 1 de abril de 2008

A MULHER INDIANA


Feminilidade, sensatez, perspicácia e aceitação, considero as principais qualidades da mulher indiana.

Acho distorcida a propaganda que temos aqui sobre a discriminação às mulheres dentro da sociedade indiana. Essa discriminação existe, assim como em muitas outras sociedades.

Vejo na mulher indiana muita felicidade interior. A grande maioria tem uma vida familiar estável. Muitas já trabalham fora, principalmente nas grandes cidades. Porém, as donas-de-casa não têm nenhuma objeção quanto a sua função dentro da família, fazem com a maior dedicação.

São muito respeitadas dentro da sociedade. Minha experiência em Kerala, estado do sul da Índia, local de origem da família do Jyoti, é encontrar muitas mulheres que ditam as regras da casa. Kerala era uma sociedade matriarcal que deixou muitas heranças.


Em Kerala são apaixonadas por ouro e a grande maioria tem muitas peças. Quanto mais grossa e pesada a corrente melhor. Um passeio pelas joalherias do estado nos deixam atordoadas. São paredes e vitrines completamente douradas, lotadas de correntes, braceletes, brincos e outras peças de ouro 24 quilates. Ouro 18 quilates lá quase não tem valor, é considerado uma bijuteria.

E o governo indiano está tentando melhorar a situação das mulheres. Há poucos dias determinou uma isenção de imposto para mulheres assalariadas até certa renda. Está investindo em educação e fazendo campanhas para levar as jovens para a escola, oferecendo transporte gratuito para elas.

E há oito meses, a Índia tem sua primeira presidente mulher, que estará visitando o Brasil na semana que vem!!!!!!!

sábado, 22 de março de 2008

FESTIVAL DA CORES

Existem muitos festivais na Índia, diferentes para cada região. Ontem, dia 21 de março, foi comemorado no norte do país o Holi Festival, o festival das cores. Todo mundo sai na ruas jogando tinturas naturais, comemorando a conquista do bem contra o mal.O Holi tem vários significados e histórias mitológicas que o envolvem. Acontece todos os anos na lua cheia do início da primavera, que cai entre março e abril.

Uma das lendas do Holi envolve a história de Pootana, a perversa enviada pelo demônio Kansa para destruir o pequeno Krishna. Ela se transforma numa bela mulher e encontra o bebê Krishna em seu berço. A beleza da criança confunde Pootana. Encantada, esquece por alguns momentos sua função ali. Porém, após retomar suas forças malignas, amamenta Krishna com seu leite envenenado. O bebê, com sua energia divina, suga toda a energia vital da perversa Pootana, que cai no chão sem forças...

Dizem também, que as cores do Holi aplicadas no corpo, são absorvidas pelos poros e fazem muito bem para revitalizar o organismo. No aspecto social, possibilita a igualdade e fraternidade. É um belo festival que deixa a Índia ainda mais colorida!!!!
OBS: Essas fotos foram retiradas da Internet!

sábado, 15 de março de 2008

A Comida dos deuses....

Para mim, a comida indiana pode ser chamada de comida dos deuses. Desde que a experimentei pela primeira vez tive certeza que essa era a comida que eu queria comer pelo resto da minha vida!
Assim, não me restou alternativa a não ser aprender a cozinhar, já que no Brasil seria impossível encontrar uma cozinheira “indiana”.
A minha experiência com a alquimia indiana na cozinha já dura dez anos.



Dez anos de provações, aprovações e compreensão sobre as combinações de
especiarias, carro chefe da comida indiana.

Graças à comida indiana adquiri a fama de uma “boa cozinheira” e assim surgiram os almoços mensais que tenho o prazer de oferecer em minha casa.

Tem sido uma experiência fascinante observar a aceitação dos brasileiros ao paladar indiano, totalmente exótico para nós. Para cada almoço, são três dias de entrega à cozinha numa meditação e devoção de corpo e alma.

E como prometido no último almoço, aí vai a receita do prato mais votado: Kadala Curry ( Grão de Bico com coco fresco), receita típica de Kerala, estado do Jyoti, no qual a culinária é à base de coco e até o nome do estado quer dizer “terra do coco”!!! Essa aprendi com minha querida cunhada Gemma, numa fresca manhã de incursão por sua cozinha no preparo do café da manhã. É isso mesmo, esse prato serve de acompanhamento para o cuscuz de farinha de arroz com coco (puttu), um dos deliciosos e saudáveis desjejuns de Kerala.



KADALA CURRY
500g de grão de bico (deve ser colocado de molho na água na noite anterior)
1 coco seco
3 pedaços de gengibre fresco
3 canelas em pau
5 cravos da índia
1 ½ de semente de coentro
1 maço de coentro fresco
3 pimentas verdes frescas
6 grãos de pimenta-do-reino
1 galhinho de folhas de curry ( opcional) OBS: é um tempero indiano,chamado de curry pattá ou curry veiplá ( nomenclatura de Kerala)
1 colher de açafrão em pó

Modo de preparo:
- Cozinhar o grão de bico com dois pedaços de gengibre, açafrão e sal;
- com meio coco seco ralado, fazer o leite de coco batendo no liquidificador com 2 copos de água e depois coar;
- ao ralar o coco seco, deixar uns pedacinhos de coco, quadradinhos para colocar no curry (molho).
- Tostar com um pouco de óleo a canela, cravo, coentro, pimenta-do-reino, pimenta verde, ½ coco ralado, pedacinhos de coco, as folhas de curry, e um pedaço de gengibre, até dourar. Cuidado para não queimar as especiarias. O ponto de retirar do fogo é quando estiver exalando um aroma intenso;
- Triturar a mistura com o leite de coco e o coentro fresco; triturar bastante com atenção para os temperos em pau e semente, que devem estar completamente triturados;
- Misturar tudo no grão-de-bico ainda quente e ferver por cinco minutos.



quinta-feira, 6 de março de 2008

Om Nama Shivaia!!!

Na foto acima, Má, Guru Vinaya Chaitanya e Jyoti em Kerala,
fevereiro de 2008. Guru Vinaya Chaitanya e sua esposa Má,
mantém a tradição dos Gurukulas, centro espiritual onde vivem
o Guru e sua família. Seu Ashram fica próximo a Bangalore.
Preservam e espalham muito conhecimento, simplicidade
e amor!!! Guru Vinaya, um grande poeta e escritor, me presenteou
no Shivaratri com a palavras abaixo sobre Shiva e Shakti!!!!!

Shiva & Shakti



"Quando falamos de Shiva e Shakti, Shiva representa o aspecto masculino e Shakti o feminino. O homem abstrato e generalizado é chamado de Shiva e a mulher, abstrata e generalizada, pode ser chamada de Shakti.

Cada um de nós temos esses dois aspectos. Esse aspecto é representado em Ardha Narishvara, o deus/deusa metade homem, metade mulher. Eles representam a polaridade, e podem cancela-la transformando-se em único, experiência unificada na qual eles estão acima de cada um."

domingo, 2 de março de 2008

Meu Primeiro Shivaratri



Todos os templos Shivaístas da Índia comemoram o Shivaratri. Meu primeiro Shivaratri, passei em OmKareshwar, no estado de Madhya Pradesh, Índia central.

É um dos importantes destinos dos peregrinos no Shivaratri. A cidade fica à beira do Rio Narmada, um rio muito sagrado, que corta a Índia ao meio. Em Omkareshwar, o Narmada forma uma ilha, chamada de OM por apresentar o formato deste símbolo sagrado. Os peregrinos rodeiam a ilha em peregrinação, parando de templo em templo.

Eu e Jyoti ( para quem ainda não sabe, meu marido, indiano) ficamos numa das caves ou cavernas que entrecortavam a grande montanha de pedra que formava essa ilha. Nossa caverna tinha porta, janela e um enorme altar de Shiva, com várias deidades.


Quem nos cedeu a chave foi um Baba, um asceta que tomava conta da mesma. A caverna pertencia a um pujari – espécie de sacerdote do hinduísmo – que a usava para seus rituais sagrados e meditações, e não a emprestava para qualquer pessoa. A sensação que tive quando nela entrei pela primeira vez, foi ouvir os mantras que ressoavam de suas paredes de pedras numa energia meditativa que me impregnava por inteira.

Queríamos vivenciar a espiritualidade e devoção à Shiva durante o Shivaratri. Lá ficamos durante 15 dias. Eram muitos e muitos os devotos que chegavam de todos os lugares. Pude observar a beira do Rio ser invadida por tendas a cada dia, até ficar completamente colorida, cheia de devotos e fumaças de fogos sagrados e incensos.

Nossa caverna também virou ponto de parada dos devotos que peregrinavam pela ilha. Com muito respeito, todos no saudavam e queriam nossas bênçãos. Eu não entendia muito o que estava acontecendo, porém, me mantinha em silêncio observando e sentindo tudo.

A emoção era tamanha que, dentro de minha barriga, senti pela primeira vez os pulinhos de nosso primeiro filho, que estava ali guardado há seis meses. E adivinha qual é o nome que demos a ele quando nasceu??? Shiva, só poderia ser!!!....hoje já com 8 anos e muita vontade de transformar tudo o que vê pela frente!!!


Adoração pela Serpente
Vi pela primeira vez a adoração por uma serpente. Estávamos sentados em frente à nossa caverna, que tinha um visual magnífico, observando os barcos que iam e vinham na travessia do rio, quando chegou um grupo de devotos cantando Om Nama Shivaia. Ao se juntarem a nós, passou por ali uma enorme serpente, que fazia seu guizado e levantava o corpo. Ela estava ali, surgiu como uma mágica, ao meio de todos.

Imediatamente todos ascendiam incensos para a cobra e saudavam Shiva com Om Nama Shivaia. Na Índia, cobra é símbolo de Shiva, traz auspiciosidade. Para o indiano, quando uma cobra atravessa em sua frente é sinal de grande transformação à caminho, com as bênçãos do Senhor Shiva. A cobra foi embora tranquilamente e satisfeita. A emoção foi tão intensa para todos, que muitos choravam, se abraçavam e o pequeno ser em minha barriga saltava como bolinha de ping-pong.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2008

Shivaratri - A Noite de Shiva

Om Nama Shivaia


O Shivaratri – que literalmente significa Noite de Shiva - é comemorado anualmente em todos os lugares da Índia. Como a Índia segue o calendário lunar, esse ano o Shivaratri acontecerá em 05 de março.

Nessa noite, são realizadas muitas pujas – cerimônia sagrada – e entoação do mantra Om Nama Shivaia ininterruptamente durante toda a noite em devoção à Shiva.

Shiva é um dos deuses que formam a trindade hindu, junto com Brahma e Vishnu. Shiva é o deus da construção e da destruição, ou seja, da transformação, renovação.

Shivaratri comemora o casamento de Shiva com a deusa Parvati. Também, contam que é a única noite que Shiva descansa e dorme, por isso seus devotos devem ficar acordados a noite toda.
Outra passagem de Shiva, é a de seu casamento com Sati, que acaba se atirando ao fogo. Então com sua fúria, o deus desempenha sua magnífica dança Tandava, tomando a forma de Shiva Nataraja, destruindo todos os males.

Shiva é um dos deuses mais exóticos do hunduísmo. Tem o corpo coberto de cinzas, do topo de sua cabeça com cabelos longos e amarrados, surge as águas do sagrado Ganges. Ao redor de seu pescoço reside uma serpente, símbolo da kundalini, a energia espiritual da vida. Usa seu tridente sagrado no qual é amarrado o damroo ( pequena percussão). Geralmente aparece sentado sobre a pele de um leão. Vive como um asceta no monte Kailasa, Himalayas


Curiosidade do Shivaratri

No Shivaratri, os devotos de Shiva tradicionalmente preparam uma bebida chamada Bhang Lassi feita de cannabis, amêndoas e yogurte, e também um doce feito de cannabis, para atingir à elevação de Shiva.
O curioso é que em Omkareshwar essas iguarias são vendidas numa loja do governo e com muita devoção. Muitos devotos, inclusive idosos, tomam o bhang lassi. E no templo, a noite toda se houve Om Nama Shivaia numa atmosfera de elevação e intensa devoção até o amanhecer. Uma verdeira liberdade de espírito!!!

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Índia aos olhos de cada um

A Índia é um paradoxo!!! Recebi hoje, notícias da Índia, vindas de brasileiras que expressam seus pontos de vistas após experimentarem um pouco do país.

As impressões eram completamente opostas, oscilando entre maravilhamento e desencantamento! Nesses anos de comunhão com esse país, tenho ouvido relatos de diferentes experiências na Índia.

Fui para a Índia pela primeira vez com 23 anos, logo após concluir minha universidade de comunicação, na esperança de conseguir uma vaga no Pune Film Institute, afim de estudar cinema no maior produtor de filmes mundial.

A primeira vez fora do Brasil, vivi como estudante estrangeira durante seis meses, tentando entender aquele “universo à parte” no qual estava inserida.

Meu olhar estrangeiro mostrava muitas coisas “malucas”, às vezes sem sentido e estranhas. Minha tentativa de distanciar-me de minha identidade cultural, que fazia com que minha mente trabalhasse comparativamente, ajudou a aproximar-me “do outro” com mais intimidade e discernimento, proporcionando momentos de clareza e paixão por aquela terra misteriosa.

Esse exercício diário de distanciamento, abriram portas magníficas e revelaram grandezas incomparáveis da cultura indiana, que vão muito além de valores mundanos que muitas vezes acabam atrapalhando a observação do outro como ele realmente é. Ou seja, fazem parte de um jogo mental, que nos faz enxergar as coisas com os olhos da mente.

Isso me faz lembrar a história de Sangayya, um disciplinado devoto do deus Shiva, que via o deus em todas as coisas. Certo dia a curiosidade do rapaz, o levou a seguir algumas cortesãs acreditando que as moças realizariam ritual ao grande deus. Foi levado pela suntuosa Saumatri até seus aposentos, onde o rapaz enxergou na cama o trono de Shiva, e a cortesã como sua atendente e grande devota de Parvati, a consorte do adorado deus. Para cada detalhe do aposento, enxergava o templo do deus e a cada gesto da cortesã atribuía aos rituais sagrados. Durante toda a noite realizou uma grande cerimônia à Shiva.

Essa bela história relatada detalhadamente no livro “Uma escada para o Conhecimento” , do escritor francês Ariel Glucklich, nos mostra que tudo está relacionado com a maneira que conceituamos nossa percepção.

A partir do momento que a Índia passou a ser vista por dentro , consegui admirá-la e compreender porque esse país atrai tanta gente nesse mundo.

E isso aconteceu também graças ao encontro com o indiano Jyoti, que tornou-se meu parceiro e pai de meus pequeninos Shiva e Lalita. Mas esse encontro é uma outra história, de amor, que será contada aqui em algum momento futuro. Enfim, acabei vivendo na Índia por quase dois anos sem retornar ao Brasil.

Na Índia tem muito de tudo o que podemos imaginar. É um país contraditório. E só entendemos a devoção à Shiva, quando por lá passamos. O deus forma a trindade hindu, junto com Brahma e Vishnu. Shiva é o deus da destruição e da construção. É uma coisa e seu oposto. É divino, mundano, sexualizado e ascético, sublime e excêntrico. É a própria personificação do paradoxo!!!

E é dele e de sua grande festa Shivaratri, que acontece em poucos dias, que falaremos em breve!!!!

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Muitas Índias, muitas cores, cheiros e sabores

शान्ति: शान्ति : शान्ति
Festa das Cores, Holi, todo mundo deve ficar muiiitoooo colorido!!!! Acontece no norte da Índia no final de fevereiro ou início de março! Esse ano será dia 21/03.
Celebra a vitória do bem contra o mal!!!
Qualquer um em qualquer parte pode ser pego de surpresa com uma nuvem de cores...eles jogam tintura colorida em pó...eu fiquei pink total!!!

A maneira mística de viver



A comida, costumes, relacionamentos, espiritualidade, Gurus e Ioga, tão peculiares, interessantes e misteriosos, que atraem cada vez mais brasileiros e o mundo ao sub-continente Índia. Na Índia a espiritualidade e a religião fazem parte do dia-dia das pessoas. A religião pode ser considerada mais como um “modo de vida”, que ensina uma maneira diferente de conceber a vida e a morte.

O curioso é compreender como os indianos conseguem manter tradições e valores espirituais em meio à vida moderna, competitiva e preocupada com valores materiais. Conhecendo sua história, descobrimos que o indiano tem uma capacidade afiada de assimilar culturas e valores, sem que esses interfiram diretamente na suas crenças espirituais e religiosas, fundadas há pelo menos 5.000 anos.

A Índia de tradição hindu tem uma história recheada de invasões. Assimilando ou não os valores do outro, sempre conseguiu manter vivos seus fundamentos culturais.

No período mais remoto, no séc III a.C. foi dominada pelos persas; no século VII foi invadida pelos árabes, os quais reinaram por 400 anos com a total hegemonia muçulmana; mais recente, no século XIX, foi invadida e dominada pelos ingleses, sendo colônia da Inglaterra durante quase 150 anos.

Foi só em 1947 que a Índia declarou sua independência do governo britânico, diante da trajetória histórica de Mahatma Gandhi, um dos maiores líderes pacifistas do mundo, que pregava a não-violência e conceitos espirituais baseados na filosofia védica.

A religião Hinduísta predomina em 82,6% da população. Num país de cerca de 1bilhão e 100 milhões de habitantes, 82,6% de hindus é muita gente. O restante pratica o islamismo (10%), cristianismo (2,4%), sikhismo (2%), budismo (0,7%), jainismo (0,5%) e outras pequenas seitas religiosas.

O hinduísmo é fundamentado nos Vedas, escrituras sagradas com pelo menos 5.000 anos de existência, que contém ensinamentos nas áreas da medicina, rituais, astronomia, auto-conhecimento e práticas espirituais. É nesses Vedas que encontramos as respostas para compreender costumes e modos de vida dos indianos.

A parte dos Vedas que lida com o problema básico do ser humano é chamada de Moksasastra ou Vedanta, encontrada no final de cada Veda. Esse ensinamento propriamente dito encontra-se na forma de diálogo entre professor e aluno, que são chamados de Upanishads. E ao atingir a compreensão e discernimento deste corpo de conhecimento de forma tradicional, alcança-se moksa , o conhecimento de si mesmo, ou a paz duradoura, ou ainda, a liberação. Essa liberdade, ao contrário do significado ocidental, está associada ao estar livre do sofrimento e das infelicidades da alma.

Para os hindus, a solução está na compreensão de si mesmo e suas infelicidades.

E para atingir essa compreensão, muitos buscam encontrar um mestre espiritual que os ensinem o caminho e os ensinamentos tradicionais dos vedas. Por isso é que a tradição dos Gurus espirituais ainda é muito viva em todos os cantos do país.

E são muitos os conhecidos por aqui...com certeza você já ouviu falar de algum!!!!

Índia, um país que cresce sem violência

Visitar a Índia de norte ao sul, é como entrarmos num mundo a parte, único e peculiar. Mesmo inserida na irremediável globalização mundial, a Índia consegue uma harmonia visível entre o tradicional e o contemporâneo. Vive as mudanças que o mundo todo tem presenciado, mas ainda consegue se firmar em suas mais antigas raízes.

Talvez, seja esta a característica primordial que faz deste país uma terra exoticamente cultural.
Uma característica fascinante no modo de vida de seu povo em geral, é o respeito ao próximo e a vida humana. O que faz de um país de mais 1,2 bilhão de habitantes, o segundo maior do mundo, conviver sem a tenebrosa nuvem cinza que assusta o mundo, chamada violência.


Para um turista brasileiro, novato na Índia, a sensação que temos é que no meio à confusão congestionada de uma rua de Nova Delhi, estamos mais seguros que em certos lugares de nosso próprio país. É como se a paz e o respeito estivessem impregnados na atmosfera indiana, porém caótica numa desordem organizada à moda indiana.

Esta “não-violência” vivenciada pelo povo indiano tem raízes milenares, e atuam como pilares de sustentação de sua rica cultura, que já recebeu invasões árabes e se renderam à colonização inglesa durante 300 anos, mas sem abandonarem seus valores tradicionais de pelo menos 5.000 anos de existência. Estes pilares que sustentam a civilização indiana são a constituição familiar, religiosa e filosófica da Índia.

As famílias indianas têm tradições centenárias, para não dizer milenares, e conseguem preencher toda a base emocional e psicológica de cada indivíduo, criando uma corrente de bons exemplos e atitudes humanitárias, como honestidade e respeito ao próximo.

A religião e filosofia caminham juntas, e encontram no Hinduísmo, a religião de 80% dos indianos, explicações coerentes para o respeito à vida humana e a não-violência. O que culminou com a trajetória do grande pacifista mundial Mahatma Gandhi, durante a independência do país em 1947.

Dentro deste paradigma, o país consegue atingir altos índices de desenvolvimento, o que não é estagnado por problemas sociais como a violência. A Índia é atualmente a economia com o segundo crescimento mais rápido do mundo, atingindo um PIB que oscilou entre 8 e 10% nos últimos dois anos. O país é um dos maiores produtores de alimento do mundo, sendo o primeiro na produção de leite, cana-de-açúcar e chá. Produz 30 milhões de toneladas de frutas e 59 milhões de toneladas de legumes por ano.

Estes dados, fazem com que caia por água abaixo o mito da Índia como um “país miserável”, com pobreza e fome. Em velocidade muito maior que o Brasil e uma população gigante, a Índia consegue baixar seus índices de pobreza ano a ano.

E neste caminho a Índia cresce, se moderniza e mantém sua fama mundial de berço de cultura milenar, abrindo seus portões aos viajantes que buscam uma experiência rica e inovadora.

UMA LONGA CAMINHADA


Vamos iniciar uma jornada pela Índia...vou dividir minhas
experiências alegres ou tristes, porém sempre enriquecedoras nesses mais de dez anos de caminhada...durante a qual a Índia tem abraçado minha vida.
Um canal de comunicação direta Índia-Brasil!!!
Bem-vindos! Namastê!!!